quarta-feira, 19 de maio de 2010

O que é santidade? II

Voltamos com nosso bê-a-bá da santidade. 

No texto anterior desta série, vimos que devemos fugir da ideia de que santidade é algo impossível. Uma vez sabedores disso, fatalmente refletimos: “Deve haver uma maneira de se caracterizar um santo!”

Será que é a vocação pelo estoicismo que faz alguém ser santo? Porque nos é ensinado que se você não se contenta com um sermão raso num culto medíocre, significa que sua vida espiritual não anda lá essas coisas. Quanto mais um culto maçante testa seus nervos, mais santo lhe faz ou indica que você é. Quanto mais humildemente (indigentemente) você se arruma, mais santo você é. Quanto mais gente sem noção você aguenta sem dar nenhuma repreensão; ou - dependendo da escola de santidade em que você esteja inserido - quanto mais você distribui repreensões aos pecadores, mais santo você é.

Apesar da Bíblia não se alinhar à idéia de que santidade é irrelevante, também nunca a definiu em termos de não pecar, ser passivo diante de injustiças ou amar mais a regras do que a seres humanos, como pensam alguns.

Para conseguirmos entender melhor o conceito de santidade, vamos aliá-lo a um conceito não sinônimo, porém próximo e um pouco mais vastamente explorado na Bíblia: o conceito de justiça.

Para fins práticos, pode-se dizer que alguém santo é alguém justo. O santo ou justo é o único que possui verdadeira identidade e senso de valor próprio, pois constrói essas coisas na base mais firme que pode haver: Cristo.

Ele possui uma auto-estima equilibrada não por fé em si mesmo, mas por fé no valor que Deus confere a ele (Dt32:10; Os11:1-9; Jr9:24; Lc12:6-7; Rm7:24). Na verdade, o justo vive em constante desconfiança de si mesmo (Jr17:5 e 9; Fp3:4-7). Sabe que há um monstro dentro de si que só pode ser aplacado pela fé no que Cristo fez na cruz (Rm3:10-18, 7:19). 


O santo sabe ser impossível que algo bom proceda de si mesmo. É alguém que sabe que nasceu totalmente depravado e que todos os seus atos e pensamentos, até os mais insuspeitos, são mesquinhos e egoístas, são pecado se não provém de fé, pois, “tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm14:23). Sabe que TUDO o que procede de si mesmo, até mesmo a sua JUSTIÇA é trapo de imundície (Is64:6), pois tudo o que é de fato puro, “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto” (Tg1:17).

O santo é um paradoxo porque, apesar de tudo isso é bem-aventurado. Aliás, o saber de tudo isso o faz ser bem-aventurado, pois ele não precisa mais fingir para si mesmo nem para os outros. Por isso, santo é aquele que adquiriu verdadeira autenticidade e felicidade (Fp4:3-7), porque, apesar de reconhecer toda a sua indignidade, sabe que Deus não está furioso com ele nem pronto a condená-lo (Jo8:11; 12:47; Rm8:1). E para começar a entender esse mistério infinito é imprescindível viver aquilo que Deus diz em Hebreus 10:38: “O meu justo viverá pela fé”.
 

O santo vive a boa e desejável tensão entre a insatisfação consigo mesmo e satisfação de estar em Cristo. A tensão entre o conforto da salvação (Jo14:27) e a inconformação com este mundo (Rm12:2). 

Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mas santos nos tornamos (Pv4:18). Isso significa que, à medida que nos aproximamos dEle, mais cônscios seremos de nossas próprias debilidades e fraquezas (Is6:5), bem como mais paz teremos ao saber que estamos no lugar certo: firmando-nos no Único que pode mudar nossa fraqueza em força (2Co12:19), nosso coração de pedra em coração de carne (Ez11:19).

Esses dois últimos textos foram apenas a introdução do quem vem por aí. A coisa ainda vai afunilar um pouco nesse nosso mini-curso de santidade para iniciantes. Até mais.


Leia também os outros textos desta série

3 comentários:

  1. Quanto mais gente sem noção você aguenta sem dar nenhuma repreensão; ou - dependendo da escola de santidade em que você esteja inserido - quanto mais você distribui repreensões aos pecadores, mais santo você é.
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    Interessante isso. E concordo. Mas há pessoas que, ao serem repreendidas por agirem "sem noção", vêm logo com o "você precisa amar como Jesus amou e não ser um fariseu". Para elas, as duas coisas que vc citou são iguais: repreender os "pecadores" e repreender os sem noção.

    Só que há coisas, sim, que merecem repreensão, até como forma de ajuda. E cristão não é capacho, já diz pr. Leonardo. Portanto, devemos sim dar a outra face, mas, como vc disse, não devemos nos calar diante de injustiças.

    Mas as pessas por mais que concordem com isso, não aceitam dar a outra face, sabem repreender, mas não gostam qdo é com elas. Querem fazer a todos de capacho, mas qdo alguém não concorda com elas e diz, falam logo que são fariseus. Inclusive pregam sobre isso. O que é ridículo, mas acontece.

    Também há aqueles que dizem: "pessoas que querem destruir outras! Vou orar por elas, precisa das misericórdias de Deus!", como se dissessem: "pobres coitadas, eu sou santo, mas esses daí? Precisam mesmo de Deus, são uns coitados.... Eu não, porque sou "santo"".

    TODOS precisamos das misericórdias de Deus. Como bem disseste, todos somos TRAPOS DE IMUNDÍCIA. Somos miseráveis, todos, mas graças ao bom Pai somos ajudados por Ele nesse caminho de lutas e vitórias...

    AMEI, como sempre dez. Continue com sua "acidez" do bem ;)

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  2. Ei, perdoa aí os erros. Escrevi muito rápido, saindo pra trabalhar... Enfim, perdoai-me vós :P

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  3. Por que o conceito humano de santidade está sempre atrelado à obras exteriores?
    Na Bíblia, santidade é contagiosa ao contato diário com Jesus. Ficamos (se assim o permitimos) impregnados com uma santidade que nos faz "portadores" de algo desconhecido para nós mesmos, mas patente aos nossos espectadores.
    Gostei muito dos textos.

    Mas, aí, você pretende ser santa?


    Evanildo F. Carvalho

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